segunda-feira, 18 de maio de 2009

Vende-se Tudo

enviado pela atenta colaboradora Maria Cecília

No mural do colégio da minha filha

encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o

que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos.

O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento.

Uma outra mãe, ao meu lado, comentou:
- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.

Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo
apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e
por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar,
aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.

Como eu não conhecia muita
gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e

esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o
primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém
que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.

Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além
disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se
iam meus móveis e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na
minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma.

No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No
último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou
esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros..

Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que

aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei
a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por
coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar.


Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez
mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa
o tempo que estiveram presentes na minha vida...

Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar

aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile.

Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha
2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.
Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que
não tínhamos nem uma xícara em casa.

Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções
todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos
excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza.

....
só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir

É melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ !
(Martha Medeiros)

("deixe seu precioso comentário sobre o texto supracitado. Ele,tbém, será muito importante!")


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