terça-feira, 25 de março de 2014

PEDRINHO DAL RIO - PROFESSOR QUE SE FOI, MAIS UM VÍTIMA DA VIOLÊNCIA E DA FALTA DE AMOR, DIFICIÊNCIA QUE NOS CAUSA HORROR!!! (louvável homenagem do sapiente amigo Ricardo Picolomini de Azevedo - tenista e incentivador dos enxadristas)


OPINIÃO: "Mogi Mirim perdeu, numa semana marcada por acontecimentos trágicos, uma pessoa especial. Como não lembrar do professor de Geografia, do Ginásio Monsenhor Nora, nos anos 60? O amigo Pedro vai fazer falta, mas escreveu sua história na cidade".
Leia a coluna "Em Debate", de Ricardo Piccolomini de Azevedo:

Pedro Dal Rio, professor e amigo

Mogi Mirim perdeu, numa semana marcada por acontecimentos trágicos e contabilizando mais uma vítima da violência urbana que nos inquieta, uma pessoa especial. O professor e amigo Pedro Dal Rio.
Foi inevitável. Ao saber de sua morte violenta, refleti como isso era possível. Como uma pessoa do bem, sempre pronta a fazer uma troca de palavras jocosas, fruto de sua cabeça privilegiada.
Como não lembrar do professor de Geografia, do Ginásio Monsenhor Nora nos anos 60? Certamente um professor diferente daqueles sisudos mestres de então. Tive com ele uma passagem marcante, na terceira série, quando ele, ao virar-se da lousa, deparou-se comigo e com meu amigo Bino Barros, engalfinhados, sabe-se lá por que motivo. Lembro que ele só nos apontou a porta da sala de aula com aquele sorriso maroto na face, como que a dizer: “Ficô loco?”.
Tive a sorte de ter Pedrinho como professor por ainda mais dois anos no curso Clássico. Para quem não sabe, o 2º grau de hoje, antes de ser Colegial, era divido em Científico (Ciências Exatas), Normal (professorandos) e Clássico (Ciências Humanas). Talvez porque fosse a última turma deste curso, tivemos uma lição diferente de geografia, montando um relevo de município, a cada aula tirando do mapa um nível, cortando em cartolina e montando o perfil da cidade. Éramos apenas 12 na classe, entre eles, Frei Paulo, então seminarista, que hoje está de volta à cidade.
Não posso deixar de lembrar do Pedro no time de basquete da cidade, nos memoráveis jogos na quadra com arquibancadas de madeira do Estádio Vail Chaves, ao lado de seu primo Beth, Geninho, Formigão, Caxambu, Marcão Delafina, Dito Aprígio, Chicão do Guaçu e outras feras.
Mais tarde, foi nosso parceiro nos torneios de vôlei que nossa geração organizou e disputou, na quadra de fora do Grêmio, ou no inesquecível torneio que fizemos no Recreativo, transformado em quadra, envergando a camisa azul da escola Monsenhor Nora.
O tempo se incumbiu a apagar a distância da idade e, não poucas vezes nos últimos anos, trocamos longas conversas nas manhãs pela cidade, no café ou na praça e às vezes no banco do jardim à noite, seu lugar cativo.
Certa vez o café servido pelo Ratz estava diferente, a explicação era um café especial trazido de Mococa, sua terra natal, pelo Pedrinho. Uma destas prosas foi inesquecível. O Pedro perguntou numa manhã, se tínhamos meia hora para ele. Foi até sua casa e voltou com cópias de seu passaporte de peregrino a Santiago de Compostela. Depois de mostrar os registros de cada passagem, concluiu a história dizendo que havia conversado com um motorista de táxi que lhe contou que tinha levado o escritor Paulo Coelho nos últimos 150 km, e emendou, bem a seu estilo gozador: “estes quilômetros ele ficou devendo da história que contou no seu livro”. 
Para finalizar, uma tirada bem ao estilo Pedro Dal Rio. Certa vez me procurou na redação, perguntando pelo Dr. Ricardo, o que confundiu a jovem que fazia um teste, que lhe respondeu que ali não havia nenhum Dr. Ricardo. Pegando o jornal sobre o balcão, leu o nome na primeira página e emendou: “É, o mundo está mesmo estranho, tem poste fazendo xixi em cachorro”.
O amigo Pedro vai fazer falta, mas escreveu sua história na cidade.
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