sábado, 10 de setembro de 2011

TRIBUTO À INTELIGÊNCIA, À BELEZA E AO XADREZ FEMININO... VEJA AS FOTOS E ...

Rádio Xadrez vai à Rússia!(do blog - fanáticos por xadrez...)

ELA É LINDA, inteligente, divertida e, com raríssimas exceções, ganharia de você que está lendo este texto em uma partida de xadrez. Estamos falando da WGM Natalia Andreevna Pogonina, de 25 anos, que nos concedeu a entrevista publicada abaixo, inaugurando assim a ‘franquia’ internacional da Rádio Xadrez!

Moradora da cidade de Saratov, Rússia, Pogonina foi considerada, em 2009, pela Associação Profissional de Xadrez (PCA, sigla em inglês), uma das três enxadristas de maior sucesso no mundo. Com 2.491 pontos de ELO-FIDE na lista de setembro (já teve 2501), ela defendeu o 1º tabuleiro da Rússia-2 na Olimpíada de Xadrez 2010.

Natalia (ou Natalija) é geralmente lembrada pela sua beleza e simpatia, qualidades aliadas a excelentes resultados nos tabuleiros. Ela é três vezes campeã europeia (sub-16 e sub-18 duas vezes) e tem medalhas de bronze no Campeonato Mundial sub-18 e no Campeonato Europeu Feminino, além de uma medalha de ouro nos Jogos dos Esportes da Mente, disputados em Pequim, na China, em 2008, nos quais o GM brasileiro Alexandr Fier também participou.

Com mais de 34 mil seguidores no Twitter, perfil no Facebook e um site/blog atualizado quase que diariamente, Pogonina se destaca pela sua atuação maciça e engajada em prol do esporte. Casada, mãe do pequeno Nikolai, de 10 meses, a WGM reservou um tempo em sua agenda para conversar com a
Rádio Xadrez, alguns dias antes de embarcar para Khanty-Mansiysk, na Sibéria.

Formada em Direito e cursando mestrado na Saratov State Academy of Law, Natalia leva um trabalho à parte, quase em segredo, que vai causar burburinhos nas comunidades de xadrez mundo afora: ela está escrevendo o livro Chess Kamasutra, isso mesmo, o Kamasutra do xadrez, que ensinará xadrez usando analogias com o sexo (e vice-versa, ela afirma!).

Aquela imagem antiga, propagada possivelmente pelos filmes hollywoodianos que retratam a Guerra Fria, de que os russos são introspectivos, frios e, em alguns casos, um tanto quanto mal-humorados, vai ser deixada facilmente de lado quando você ler esta entrevista. Mesmo morando em um país gélido, Natalia está sempre com um sorriso brilhante no rosto, derretendo geleiras dentro e fora dos tabuleiros.


Natalia, estamos muito felizes por você aceitar conversar conosco e criar uma chance para os fãs brasileiros te conhecerem melhor! A Rádio Xadrez agradece sua gentileza e deseja todo sucesso em sua carreira e vida pessoal! (Tiago)

E aproveito este espaço para dizer que é um prazer incomensurável ter feito nossa primeira entrevista internacional com você! Desde então, você tem toda a minha admiração e carinho. Ligue-me quando estiver no Brasil ;-) (Leandro)

* Colaboraram na realização desta entrevista Helena Rati e Peter
Zhdanov

Rádio Xadrez - Temos a impressão, vendo suas fotos em seu site oficial, que você poderia muito bem ser uma patinadora no gelo ou ginasta olímpica. Sempre foi só xadrez ou você também se interessa por outros esportes?

Natalia Pogonina - Eu sou uma ávida fã de esportes e gosto de assistir quase todos os tipos de transmissão. Também adoro jogar futebol, basquete, vôlei, andar de skate e dançar.

RX - Sempre ouvimos aqui na América que há milhões e milhões de crianças jogando xadrez na Rússia. Isso nos leva a pensar que os bebês já nascem segurando peças, relógios e babadores com autógrafos de Mikhail Tal, Alexander Alekhine ou algo parecido. Você joga desde pequena ou levou algum tempo para descobrir esse jogo?

NP
- Assim como grande parte dos GMs, eu aprendi a jogar xadrez relativamente cedo - com cinco anos. Desde os 12, depois de vencer o Campeonato Russo pela primeira vez, eu passei a me considerar uma semi-profissional no xadrez e decidi me tornar profissional alguns anos depois.

RX - Na sua família há bons jogadores também? Você tem irmãos?

NP - Meus pais não gostam muito de xadrez e eu não tenho irmãos.

RX - Às vezes, uma competição familiar, ou mesmo considerar o irmão mais apto do que você, pode ser um pouco desestimulante. Você acha que ter uma família de enxadristas ajuda ou atrapalha no desenvolvimento do jogo? O caso da família Polgar é uma exceção ou, geralmente, pais e irmãos jogando favorecem seu desempenho?

NP - Quando dois irmãos começam a jogar xadrez, normalmente um dos dois evolui bem mais rápido do que o outro, e o jogador mais fraco abandona o jogo. É claro, existem exceções, por exemplo, as irmãs Polgar ou as irmãs Kosintseva, mas elas são muito raras. Em termos de progresso, ter acesso a bons torneios, treinamento e amigos no xadrez são mais importantes do que ter um parente que joga.

RX - Você teve um filho recentemente. Já pensa em como vai ser ensiná-lo a jogar xadrez, como serão os primeiros campeonatos dele? Como a vontade dos pais pode contribuir e não se tornar uma pressão nesse caso?

NP - Enquanto muita gente espera que o Nikolai se torne um forte mestre no xadrez, nem o Peter [Peter Zhdanov, seu marido, 2010 Elo-FIDE] nem eu temos expectativas especiais para ele. Nós vamos ensiná-lo a jogar, mas o deixaremos escolher sua própria ocupação. Não há necessidade de tentar criar um prodígio do xadrez artificialmente. Quem sabe se ele terá algum interesse por xadrez?

RX - Natalia, há algo muito importante que deveríamos ter perguntado logo no início. Somos bastante egocêntricos aqui, então queremos saber: o que você conhece sobre o Brasil? Nós conhecemos muito sobre a Rússia e sobre você, particularmente, portanto, não nos decepcione!

NP - Para mim, o Brasil está associado com o sol, com pessoas amigáveis (eu ocasionalmente converso via chat com fãs de xadrez do Brasil, pelo Facebook e pelo Twitter) e, é claro, com jogadores de futebol lendários! :-) Eu também já publiquei números sobre o xadrez brasileiro no meu blog.

RX - A Rússia é o berço do xadrez! Sempre se ouve isso aqui na América e cria-se uma ilusão de que, ao visitarmos Moscou ou São Petersburgo [maiores cidades russas em números populacionais], veremos meninos jogando xadrez nas ruas assim como vemos crianças brasileiras jogando futebol. Entretanto, um amigo visitou o seu país recentemente e disse ter ficado um pouco decepcionado porque ele não viu muitas pessoas jogando xadrez nas ruas e praças, não viu lojas específicas de xadrez, nem estátuas e bustos de Kasparov, Tahl, Botvinnik e Pogonina. Onde se escondem os enxadristas da Rússia? Como é o xadrez de base em seu país?

NP - Hoje em dia, o xadrez é um jogo mais da internet do que de parques ou cafés. É claro, ainda existem jogadores da “velha escola” que se reúnem em clubes locais e jogam durante todo o dia, mas essa ótima cultura está se extinguindo, infelizmente. Além disso, o xadrez não é tão popular agora na Rússia quanto era nos dias da União Soviética, mas, ainda assim, mais ou menos metade da população sabe jogar. Sem contar que a Rússia é a única super potência no xadrez...

RX - O apoio financeiro para evoluir no esporte é realmente significativo em seu país?

NP - Apoio financeiro é fundamental, é claro, já que sem ele as pessoas não têm motivação o suficiente para se dedicar ao esporte e são forçadas a abandoná-lo por não poderem sustentar suas famílias. Felizmente, apesar de não ganharmos como estrelas do futebol ou do hóquei, ainda é possível viver de xadrez na Rússia.

RX - Você é mulher (uma linda mulher, a propósito) e mesmo que nós da Rádio Xadrez sejamos partidários da idéia de que homem e mulher podem competir no mesmo patamar, ainda se ouve muitas piadinhas sobre isso. Temos certeza de que você também já ouviu e essa pergunta é necessária: você prefere enfrentar homens ou mulheres?

NP - Obrigada! Na verdade, é bem difícil para mulheres competir com homens no xadrez (eu já escrevi um artigo para o ChessBase sobre esse assunto). Jogos contra mulheres são mais tensos, mais emocionais, porém mais erros são cometidos neles. De maneira geral, minha agenda é composta principalmente por eventos top femininos (como Campeonato Mundial, Olimpíada de Xadrez, Superfinal Russa, Campeonato Europeu etc.), então dou muito valor a oportunidade de enfrentar jogadores fortes do masculino de vez em quando. Porém, isso não acontece com frequência.

RX - Você pode contar alguma história engraçada de como foi derrotar algum machista preconceituoso, em alguma de suas partidas?

NP - É claro, eu já derrotei alguns homens machistas na minha carreira enxadrística, mas não tive a chance de enfrentar o lendário Victor Korchnoi, por exemplo. Ele é conhecido como o ofensor número 1 das mulheres, quando elas ganham ou empatam contra ele. :-)

RX – As brasileiras reclamam que há menos torneios femininos, menos incentivos. Recentemente, entrevistamos nossa #1, WFM Vanessa Feliciano, que disse preferir jogar com homens, porque no xadrez feminino a pressão psicológica é maior. Você concorda?

NP - É verdade, existem menos eventos femininos, os prêmios são menores etc. Além disso, para evoluir, o enxadrista precisa jogar contra oponentes melhores, e, atualmente, mesmo os supertorneios entre mulheres, garantem apenas jogadoras com 2500 de média de ELO. Assim, é preciso jogar contra homens para evoluir e elevar o rating acima disso.

RX - O nervosismo aumenta quando se está diante de uma WGM Alexandra Kosteniuk ou de um GM Magnus Carlsen? O que você pensa a respeito?

NP - A Alexandra é uma grande amiga minha. E por que eu deveria ficar nervosa enfrentando o Carlsen? Eu não recusaria a tentativa de jogar contra ele, se a Rádio Xadrez conseguisse convencê-lo a me enfrentar! :-)

RX - Temos um quadro na Rádio Xadrez que é uma brincadeira por causa de duas palavras iguais da língua portuguesa (uma delas é uma gíria) com significados diferentes: xadrez (o jogo) também quer dizer prisão ou cadeia (na gíria). Então sempre perguntamos ao entrevistado: “quem do (universo do) xadrez você mandaria para o xadrez?” O que você responderia?

NP - Isso me lembra uma anedota sobre Bobby Fischer, que foi visitado na prisão pelo seu amigo e rival Boris Spassky. Dizem que Fischer falou que, naquelas circunstâncias, preferiria ter encontrado a Alexandra Kosteniuk no lugar do Boris. :-)

RX - Outro quadro é a pergunta “Qual GM brasileiro é o mais bonito?”. Sabemos que nenhum deles é, mas isso melhora o ego dos nossos jogadores! Encaminhamos uma foto de cada um deles para você, qual foi seu preferido?

NP - Havia um concurso on-line de beleza para o xadrez feminino, mas eu nunca ouvi falar de um desses para homens! Com certeza os GMs brasileiros se sairiam bem nele! Cada um deles é atraente a sua maneira, especialmente em seus sobrenomes: Fier, como "Fogo" [fire, em inglês], Diamant, como diamante [diamond, em inglês], Lima, como a fruta [lime, em inglês] e por aí vai.

RX - Você é uma grande incentivadora do xadrez e tem utilizado meios, digamos, informais para divulgar o esporte (blog, facebook, twitter etc.). Nós apreciamos muito isso porque é algo que também tentamos fazer com a Rádio Xadrez, pois sabemos que o apoio ainda é pequeno, principalmente no Brasil. Se você fosse brasileira e estivesse em nossa situação, que tipo de conselhos você daria para os jogadores do nosso País superarem esses obstáculos?

NP - Provavelmente, o passo mais difícil é o primeiro. As pessoas costumam pensar "nada depende de mim, o que uma única pessoa pode fazer?". Porém, hoje em dia, o papel das personalidades é extremamente importante na nossa sociedade. Se uma pessoa ama o xadrez, ela pode ajudar a promover o jogo através de um bom desempenho, escrevendo artigos, ensinando a crianças, tendo blogs, atraindo patrocínios, escrevendo livros e de vários outros jeitos. Nunca desista, confie em si mesmo e vá em direção à vitória! ;-)

RX - A propósito, falando em não desistir, você poderia seguir nossos perfis no Twitter e nos mandar um beijo por lá, @tasantos e @llsalles?

NP - [Risos] Ok, já estou seguindo vocês :-)

RX - Você escreveu um excelente artigo recentemente que teve uma imensa repercussão positiva por aqui (Getting Better in Chess: The Critical Mistake to Avoid). Pode nos dar umas dicas extras, que não apareceram por lá?

NP - Obrigada pela atenção, meninos! Tenho publicado uma série de artigos interessantes (eu espero que sejam pelo menos) no site www.pogonina.com, sem falar nas publicações em outros portais de xadrez (como minha coluna semanal no Chess.com, da qual vocês falaram). As pessoas que gostam particularmente dos meus artigos não terão dificuldade para encontrá-los.

RX - Na verdade, estamos bem mais interessados em saber quando sairá o Chess Kamasutra, o livro que você está escrevendo que faz analogias entre xadrez e sexo. Pode adiantar algo que estará no livro?

NP - Envergonho-me de confessar a vocês que eu ainda não tive tempo de finalizar o livro. Torneios, projetos, um filho de 10 meses - com tudo isso é impossível se concentrar o suficiente em um assunto tão sofisticado quanto o Kamasutra do xadrez.

RX - Natalia, nos dê uma boa notícia: quando você virá ao Brasil? Ou, como podemos ter aulas, palestras e simultâneas com você? Ou, ainda melhor, quando poderemos tomar um café juntos?

NP - Estou aberta a convites interessantes, mas normalmente tenho uma agenda cheia de eventos planejados com um ano de antecedência. No entanto, há um ditado que diz "perguntar não machuca". Se quem estiver lendo isso for um organizador, sinta-se à vontade para me contatar pelo e-mail natalia@pogonina.com

RX - Há enquetes em seu site e queremos saber as suas respostas nelas. Vamos lá: você faz sexo durante os torneios?

NP - Sim, às vezes.

RX - Você joga pôquer?

NP - Jogo.

RX - Qual seu jogador de xadrez preferido?

NP - Em termos de estilo de jogo, [GM Veselin] Topalov. Em termos de personalidade, não quero dizer um nome porque muitos jogadores tops são meus amigos.

RX - Qual sua opinião sobre concursos de beleza no universo enxadrístico?

NP - São divertidos e benéficos por promoverem o jogo, desde que sejam justos e organizados adequadamente.

RX - Karpov ou Kirsan, qual sua opinião para as eleições da FIDE?

NP - Vamos descobrir a resposta para essa pergunta em breve. Muitos têm me perguntado diariamente sobre esse confronto, estou um pouco cansada de comentar a política no xadrez.

RX - Alexandre Kosteniuk já posou para um ensaio sensual de uma revista. Você aceitaria fazer um ensaio sexy também?

NP - Em geral, sou uma garota bastante modesta (não quem vocês esperariam ser a autora do Kamasutra do xadrez!). Então, mesmo que eu concordasse, seria um ensaio erótico leve apenas, não essas imagens do tipo pornográficas que encontramos em algumas revistas.

RX - Temos alguns amigos bem invejosos que não vão acreditar que estamos falando com - a partir de agora - a musa máxima da Rádio Xadrez! Por favor, seria um presente para nós se você pudesse gravar um vídeo, dizendo como foi ter respondido às perguntas da Rádio Xadrez e mandando um beijo especial para mim (Tiago). O Leandro você pode deixar de fora...

NP - [Risos] Eu adoraria fazer isso por você, Tiago, mas estou muito ocupada me preparando para a Olimpíada, que estão quase começando! Terei de mandar apenas beijos virtuais dessa vez!: mwah

RX - Natalia Pogonina, boa sorte na Olimpíada de Xadrez! Vamos torcer muito para o Brasil, naturalmente, e, em segundo lugar, para a Rússia-2!

NP - Muito obrigada pela torcida e acredito que o Brasil fará uma boa performance na Olimpíada!

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