segunda-feira, 20 de setembro de 2010

(a arte de pensar exerce quem aprende a paciência: leiam com atenção essa criativa analogia... - enviada pelo assíduo leitor e colaborador dos blogs - deste e do saberladino.blogspot.com - o amigo e pensador Flávio Turco André)

Assunto: Resposta de Marina Silva ao bispo D. Moacyr
24 de maio de 2010

No sábado passado, a ‘Folha’ publicou reportagem com Dom Moacyr
Grechi, 74 anos, arcebispo de Porto Velho e mentor político da
senadora Marina Silva. Para ele, não existe “nenhuma esperança de
vitória. Falta nela o perfil de presidente. Mais que perfil, a
capacidade de reagir a pressão de todo o gênero. Ela é muito frágil
para aguentar”. Amigos desde 1974, Dom Moacyr disse que Marina tem
pouco “jogo de cintura” e sua fragilidade ficou comprovada quando ela
dirigiu o Ministério do Meio Ambiente (2003-20008). “Ela vivia em uma
angústia constante.”

Em artigo hoje, na ‘Folha’, Marina contesta o seu mentor.


Eis o texto dedicado

“Ao amado dom Moacyr”:
“Li na Folha (22/5) sua afirmação de que sou frágil e não tenho perfil
para a Presidência da República. No início, fiquei triste. Já tinha
ouvido algo parecido do senhor, de forma carinhosa, mas ler assim como
está no jornal tem outro peso.
Refletindo mais, reconciliei-me com sua mensagem.
Quando ando por aí, muitos me dizem que minha luta é de Davi contra
Golias. Então vamos conversar sobre passagens bíblicas, que conhecemos
bem. Elas se completam e iluminam o que quero dizer.
Quando Saul terminava seu reinado, Deus mandou o sacerdote e profeta
Samuel ungir novo rei entre os muitos filhos de Jessé. O profeta
procurou entre os mais belos, os mais fortes e os mais habilidosos,
mas Deus descartou todos. Jessé lembrou então de Davi, o seu filho
mais novo, que pastoreava ovelhas. O profeta o achou muito fraquinho,
meio esquisito. Mas Deus ordenou que o ungisse rei dos israelitas,
porque olhava para o seu coração, e não para a sua aparência.
Foi assim que Davi foi escolhido para ser rei. E logo provou seu valor
ao enfrentar Golias, o gigante filisteu, guerreiro acostumado a usar
escudo, capacete e armadura e a manejar a espada. O jovem Davi,
aparentemente fraco e sem muito preparo para aquele tipo de duelo,
ganhou a luta porque não tentou usar a armadura de Saul, que lhe fora
ofertada e nem lhe cabia direito. Usou sua própria arma, a funda, e
ali colocou a pedra para jogá-la no lugar certo, na testa do gigante.
Assim como o senhor, dom Moacyr, Samuel era homem corajoso, temente a
Deus, preparado para o sacerdócio desde um ano de idade. O senhor é
muito importante na minha vida, da mesma forma que Samuel foi na vida
de Davi. E está me vendo com olhos cuidadosos, preocupados com
circunstâncias que talvez me causem sofrimento.
Mas, como sabe por experiência própria, não podemos ficar presos às
circunstâncias.
Quando o senhor chegou ao Acre, aos 36, enfrentou os poderosos e ficou
do lado de Chico Mendes e de todos os que eram aparentemente fracos e
despreparados para enfrentar os gigantes das motosserras.
Como me ensinou, não me intimido com as circunstâncias e procuro me
encontrar com o que está no coração de homens e mulheres sinceros,
que, como o senhor, buscam fazer o melhor, apesar das dificuldades e
riscos.
Aprendi com o senhor boa parte dos valores que me guiam, entre eles
não vergar a coluna às pressões dos interesses espúrios.
Por favor, meu amado irmão, não me diga agora que esses valores não
servem para governar o Brasil e me fragilizam. Tranquilize-se: eles
são e continuarão sendo a minha força e a minha funda diante dos
desafios, qualquer que seja o tamanho deles”.

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