O número 7 sempre foi sinônimo de ponta direita, posição hoje extinta no futebol. A eles, os pontas, presto minha homenagem, justamente na parte 7 dessa série, aqui representada por Edu Bala, pelo inesquecível Garrincha e por um personagem que preferi chamar de "o ponta desconhecido".
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Carlos Eduardo da Silva, o Edu "Bala", foi ponta-direita do inesquecível Palmeiras da década de 1970, formando o ataque ao lado de Leivinha, César e Nei. Jogou também na Portuguesa e no São Paulo, entre outros clubes, e destacava-se por sua velocidade.
Certa vez, inconformado com o fato de jamais ter visto uma foto sua nas páginas da revista Placar, na época semanal, Edu resolveu tirar satisfações com o repórter fotográfico Lemyr Martins. "É só você fazer algo espetacular que eu tiro sua foto", respondeu Lemyr.
Edu ficou com aquilo na cabeça. Já no jogo seguinte, em que o Palmeiras enfrentava um time pequeno no Parque Antártica, ele resolveu, sem mais nem menos, parar a bola junto à linha lateral. Levantou-a e, em seguida, armou uma plástica bicicleta, mandando a bola para longe. Em seguida, caiu de costas no gramado, satisfeito, e perguntou ao fotógrafo, que estava na beira do campo: "Deu pra pegar essa, Placar?"
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Todo ponta carregava a injusta fama de ser meio burro, mas poucos foram mais burros que aquele que aqui, por motivos óbvios, vamos chamar de o "ponta desconhecido". Ele jogava no Internacional, e a certa altura de um Gre-Nal desmaiou no gramado, causando a preocupação de todos. Ao reamimá-lo, o médico do clube resolveu testar seus reflexos, mostrando o relógio de pulso e perguntando: "Que horas são? Que horas são?" E nada do ponta responder.
Nova sessão de bofetões no rosto e nova pergunta: "Onde você está?" "Eu estou no Estádio dos Eucaliptos, jogando contra o Grêmio", respondeu o jogador, finalmente, para alívio geral. "E por que é que quando eu perguntei as horas você não respondeu?", quis saber o médico. "Ah", explicou o "ponta desconhecido", "é que eu não sei ver as horas nesses relógios que têm pauzinhos em vez dos números..."
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E ninguém iria me perdoar se eu encerrasse essa coluna sobre histórias de pontas-direitas sem nenhuma sobre Garrincha, o maior jogador da posição em todos os tempos. Então, lá vai uma delas, que me foi contada em 1992 por Nilton Santos, companheiro de Garrincha no Botafogo.
Uma das piores partidas de Garrincha foi em um empate entre Botafogo e Racing, em Paris, por 2 a 2. Naquele dia, o lateral que o marcou foi muito feliz, e o Mané não fez quase nada em campo. Mas no ano seguinte o Botafogo voltou à França, para jogar contra o mesmo Racing, e Garrincha foi à forra.
"O cara que não te deixou tocar na bola da outra vez vai jogar hoje de novo", provocou o técnico botafoguense, Zezé Moreira. "Ele é um lateral já meio calvo." Garrincha, então, não fez por menos: driblou o marcador uma, duas, três vezes, até o pobre rapaz sair do campo pela linha lateral. E a cada drible dado Garrincha pisava na bola, olhava para o banco de reservas e perguntava: "É esse cara mesmo, seu Zezé? O senhor tem certeza?" Naquele dia, o Botafogo ganhou de 4 a 2. E o pobre lateral francês teve que ser substituído, porque seu técnico ficou com pena.
Jornalista e pesquisador, Celso é professor de jornalismo e comentarista do canal ESPN Brasil, no qual participa do programa “Loucos por Futebol”. Também colabora com especiais para as revistas Placar e Quatro Rodas. Celso escreve semanalmente para o Yahoo! Esportes. Contato: celsounzelte@yahoo.com.br. |
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