Sob a ótica de Maurinho Adorno - Gazeta 28.10.2013
Adeus aos amigos,
vou trabalhar em Brasília
Juscelino Kubitschek de Oliveira não era um sonhador como apregoam diversos historiadores brasileiros. Faço essa afirmação e tenho a certeza de que muitos irão concordar comigo. A transferência da capital federal, do Rio de Janeiro para o Planalto Central, estava prevista em três constituições anteriores ao seu mandato, de 1955 a 1960. O renomado arquiteto Oscar Niemeyer, um dos responsáveis pela obra, errou em seu projeto arquitetônico, pois Brasília não é segura. Mas eu resolvi o problema.
No ataque feito às torres gêmeas, determinado pelo terrorista Bin Laden, eu percebi quão frágil era nossa capital, suscetível a um ataque. As duas torres, uma ao lado da outra, me fizeram lembrar os prédios da Esplanada dos Ministérios e tive uma visão: Bin Laden em uma das pontas, disparando seus poderosos mísseis e os prédios caindo em cascata, como pedras de dominó. Os prédios do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto esfarelando com bombas potentes, como parte do Pentágono.
Naquele mesmo dia, 11 de setembro de 2001, eu liguei para meu amigo Bin e, pelo que me lembro, a conversa foi assim:
– Bin, não ataque Brasília, pois lá estão instaladas as figuras mais importantes do meu país, nossos políticos de estirpe, de elevada envergadura moral, impolutos (fui buscar essa palavra em meu baú). E você sabe que meu país é da paz.
Bin se lembrou do encontro que tivemos na Arábia Saudita, em Riad, numa visita que eu lhe fiz em 1977. Ele falou pausadamente:
– Não há problema, Maurinho, nosso negócio é atacar o imperialismo americano. Fique tranquilo.
Ao agradecer, ainda pedi a ele que passasse sua decisão aos seus seguidores, pois eu temia pela morte de meu amigo. Não divulguei esse meu ato heroico, em defesa dos políticos brasileiros, para que não fosse visto como prepotente. Agi por conta própria, mas não contava que o governo americano iria ouvir o meu telefonema com o Bin. Hoje sou considerado “persona non grata” pelos EUA.
Assim, Brasília se tornou um paraíso. Um paraíso de pessoas ilustres, todas elas figuras de proeminência. Terra das piadas divertidas. Uma delas que ouvi dia desses, foi a de um candango, o Jeremias, porteiro do hotel Saint Peter.
– O senhor sabia que o Zé Dirceu foi contratado como gerente do hotel, com um salário de R$ 20 mil mensais?
Tentei argumentar com ele, dizendo que eu via com naturalidade a contratação, por se tratar de pessoa largamente hábil em negociações, muito provavelmente PhD em hotelaria. Dentro de sua simplicidade, ele continuou a falar:
– Mas, tem alguma coisa estranha em tudo isso. A mocinha que era gerente geral ganhava R$ 1.800,00.
Com seus 10 anos de trabalho no Saint Peter, Jeremias falava com desenvoltura, com total conhecimento das entranhas do poder, no hotel e fora dele.
– Nosso patrão é político e amigo da Dilma e do pessoal do PT. Acho que foi por isso que ele arrumou essa “mamata” pro Zé Dirceu.
A curiosidade inata de jornalista fez com que eu perguntasse:
– Como os funcionários estão vendo a contratação de um presidiário?
– Estamos com raiva, não só pelo salário. Nós todos dormimos em um quartinho nos fundos e ele irá ocupar a suíte presidencial. Não comente que eu falei, mas transformaram a suíte em um escritório para ele receber amigos, familiares e empresários. Já nos avisaram para não comentarmos nada, senão perderemos nossos empregos.
Jeremias me contou ainda que o hotel está com 100% de ocupação. Políticos e empresários fizeram reservas, e há uma lista de espera interminável. Chego à conclusão de que o empresário Paulo Abreu agiu corretamente. Do couro sai a correia.
Juscelino realmente não era um sonhador. Jamais sonhou que a sua Brasília iria se transformar em um covil. Em tempo: estive no Saint Peter para uma entrevista com o Zé Dirceu, buscando a um emprego para complementar minha aposentadoria. Estou feliz porque serei secretário do Zé. Estou certo ou tô errado?