Leilão de animais
(i)racionais em Brasília
Maurinho Adorno
O leilão é uma das formas de compra e venda que eu mais admiro. Gosto de todos eles, como aqueles de quermesse, em que o pregoeiro levanta, num prato de papelão, um quarto de leitoa e vai perguntando “quanto me dão por esse leitão”, até encontrar uma boa oferta. Existe também o leilão de joias pela televisão, um evento de arregalar os olhos das mulheres vaidosas. O meu leilão preferido é o de gado, boi ou vaca, como aqueles que o Hélio Guarnieri promove no “Martelo de Outro”, na estrada de Mogi Mirim a Itapira.
Leilão é arte. É preciso conhecer os produtos colocados à venda, como o tempo de vida do animal, sua anca, sua ossada, e principalmente, a raça, pois os preços podem variar muito e você não pode dar um lance que não corresponda à qualidade do produto ofertado. Leilão é risco, a gente compra sem experimentar, por isso é bom se fazer acompanhar de uma pessoa que entenda do riscado, pois você pode ser enganado pelas aparências. As tetas podem estar bonitas, inchadas pelo silicone, mas é, na realidade, uma vaca velha.
Houve um leilão dos mais badalados em Brasília, reunindo animais de ambos os sexos, e de origens diversas, com maior número de cabeças originárias do nordeste. Boi gordo e boi magro, com pouco ou sem pedigree. Ele foi patrocinado pela Construtora Norberto Odebrecht, com ofertas de bovinos com diversos tipos de carcaças: gordos, prontos para o abate em outubro do ano que vem, e magros, esperançosos pela engorda. Não pude comparecer a esse evento e, confesso fiquei triste.
Nesta semana, uma festa semelhante, também na capital federal, organizada pela JBF, uma empresa do ramo. Esse leilão eu não poderia perder e confesso que é muito interessante ir vendo os lances; nossa curiosidade aguça para saber qual é o animal mais valioso, o top do plantel nacional. Eu gostaria de ser o leiloeiro, pois embolsaria comissão de 5% sobre o total das vendas – livre do Imposto de Renda. Neste, na tribuna de honra, dando os lances, os irmãos Wesley e Joesley Batista, donos da JBF. Em malas, sacolas, nos bolsos e nas cuecas deles, reais, dólares e certificados de depósitos em paraísos fiscais.
A primeira prenda a desfilar no picadeiro foi a senadora Marta Suplicy. De salto altos, bem penteada, exibindo seus lábios carnudos, pela aplicação de um Botox especial para o evento. O leiloeiro anunciou: “quanto me dão por esse exemplar; ele está meio capenga, mas ainda dá meia sola”. Os irmãos Batista não se entusiasmaram e o lance máximo, dado pelo Wesley, foi de R$ 3 milhões, a serem pagos em 15 suaves parcelas mensais de R$ 200 mil. A plateia vaiou. Wesley justificou o baixo lance: a carne precisa ser nova e “Sadia”.
O segundo que deveria desfilar na Arena era o deputado federal Eduardo Cunha. Ele não compareceu, justificando sua ausência em cartinha de próprio punho, alegando “longo compromisso em Curitiba, determinado por meu amigo, Sérgio Moro”. No telão foi exibida sua foto. Os irmãos foram dando lances, até o leiloeiro bater o martelo e vender a prenda a Joesley por R$ 50 milhões.
Requebrando a anca, com saia vermelha, a ex-presidente Dilma Rousseff entrou no picadeiro e foi aplaudida pelo pessoal da CUT. “Quanto me dão por esse magnífico animal?”, perguntou o leiloeiro, avisando que a moeda seria dólar, com o valor da arrematação em depósito na Suíça. Os irmãos entraram, em acordo e apenas foi dado o lance de US$ 30 milhões (cerca de R$ 99 milhões). A plateia vaiou, por achar o valor muito alto.
Como bom mineiro, o senador Aécio Neves entrou devagar, sorrateiramente. Escutou os lances estacionarem em R$ 60 milhões e saiu do ambiente de fininho, dizendo palavrões impublicáveis. Achou pouco. Daí foi a vez do presidente Michel Temer entrar na arena, gesticulando com as duas mãos, como se estivesse regendo uma orquestra de muares, ou fazendo show de marionetes. “É um exemplar em fim de carreira, bom para ser abatido nos próximos dias”, anunciou. Como se tratava de uma “Carne Fraca”, o maior lance chegou a míseros R$ 30 milhões, a serem pagos em módicas cinco parcelas mensais.
Chegou o momento crucial do leilão. O leiloeiro empolgou a voz para chamar a próxima prenda, o ex-presidente Lula. “É um exemplar nunca visto na história deste país”, disse, abrindo os lances. Na tribuna de honra, Joesley quase saiu no tapa com seu irmão. É que Wesley deu um lance que ele considerou muito alto, US$ 50 milhões (+/- R$ 160 milhões), a serem depositados em contas no exterior. Os ânimos acalmaram quando Wesley disse ao pé do ouvido de seu irmão.
– Comprei por esse valor porque ele pode ser eleito presidente em 2018: nós precisamos cuidar da nossa cria.
Um comentário:
Pura realidade!
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