sábado, 13 de agosto de 2016

FINAIS ARTÍSTICOS - UM SHOW PARA SE ADMIRAR MAIS ESTE FASCINANTE E MILENAR PASSATEMPO DOS REIS...

Finais artísticos

Um peão isolado lança seu brilho por todo o tabuleiro.” – Savielly Tartakower

Um argumento que escuto com frequência é que finais artísticos são muito artificiais e jamais aconteceriam em posições de partida.
Parte do argumento é verdadeiro: se assumimos que posições naturais são aquelas que ocorreram em partidas então por definição todas as composições são artificiais.
Porém, antes de ser ou não artificial um estudo é essencialmente uma visão de autor de uma concepção original ou extraordinária, algumas vezes usando elementos geométricos ou combinacionais que permitem mudar por completo a avaliação de uma posição.
Assim vários estudos possuem grande importância teórica e devem ser conhecidos por qualquer bom jogador de xadrez.

Por exemplo, como seria possível ganhar com uma dama apenas contra uma dama e quatro peões ? O estudo a seguir mostra uma possível forma.

A. Ojanen
Schackvärlden, 1943
2a. Menção Honrosa
Brancas jogam e ganham
A solução apesar de longa é mecânica e de fácil compreensão. Principalmente depois que o analista encontra o mecanismo de zugzwang usado pelas brancas:

1. Dc4+ Db4 2. Dc6+ Db5 3.D:e4+ Db4 4. Dd3 (zz) g6 5.Dd7+ Db5 6. Dd4+ Db4 7. Dd3 g5 8. Dd7+ Db5 9. Dd4+ Db410. Dd3 g4 11. Dd7+ Db5 12.D:g4+ Db4 13. Dd7+ Db5 14.Dd4+ Db4 15. Dd3 e as pretas não tem mais como evitar as consequências do zugzwang.
A manobra das brancas é de razoável importância teórica e pode, sem dúvida alguma, ocorrer em uma partida real!
Já os finais de peões são tão comuns em partidas práticas que há tempos servem de inspiração a compositores.
Vejamos o esquema abaixo, atribuído a E. B. Cook, datado como anterior a 1887.

A solução é bem simples, até porque aqui temos um esquema e não um problema ou composição. Porém este esquema aparece com frequência em finais de peões.

1. g4 b5 2. g5 b4 3. g6 b3 4. g7 b2 5. g8=D b1=D 6. Dg6+
Apesar das pretas terem conseguido promover o seu peão acabam perdendo a peça promovida por um xeque “raio X” das brancas.
Por que este exemplo tão simples é importante ?
A razão é que este mecanismo é frequentemente usado como parte importante de estratégias mais complexas em finais de peões!
Vejamos outro exemplo mais complexo porém muito conhecido:

Reti
Kagans Neueste Schachnchrichten
Abril-Julho, 1922
Brancas jogam e empatam
Este final exibe um princípio de extrema importância em finais de peões: rotas em diagonal e ataques duplos do rei.

Para quem não conhece esta posição é difícil imaginar que as brancas possam empatar em uma posição onde o Rei branco se encontra a 3 casas do “quadrado” do peão preto. Porém uma rota em diagonal do Rei que ao mesmo tempo avança em direção ao peão preto e em direção ao peão branco de c6 para apoiar o seu avanço dá às brancas uma possibilidade de empate. Vejamos:
1. Rg7! h4 (1. … Rb6 2. Rf6 h4 3. Re5 h3 4. Rd6! h2 5. c7 e empatam)2. Rf6 Rb6 (2. … h3 3. Re6[e7] h2 4. c7 Rb7 5. Rd7 e empatam) 3. Re5 h3 4. Rd6 h2 5. c7 e empatam.
Este exemplo dramático mostra o poder de um rei móvel agindo em conjunto com um peão avançado (neste caso o peão branco de c6) .
Estes dois esquemas, aparecem em vários finais práticos e também em alguns estudos de finais. O final a seguir, por exemplo, exibe as duas estratégias:

Grigoriev, 1937
Brancas jogam e ganham.
As brancas precisam conter os peões pretos e ao mesmo tempo prevenir que os seus sejam bloqueados pelo rei adversário. Um olhar superficial parece indicar empate porém as brancas podem ganhar com jogo preciso.

1. h3!, essencial para evitar que as pretas joguem Rg4 e capturem um dos peões brancos,1. … c5 2. Rb1 c4 3. Ra2 c3 4.Rb3! (se 4. R:a3? as pretas executam a manobra de Reti!, 4.… Rg3! 5. f5 Rf4 6. f6 Re3 7. f7 c2 8. f8=D c1=D+ – aqui é importante observar um ponto crítico da manobra de Reti: na composição do mestre austro-húngaro [reveja o diagrama anterior caso esteja em dúvida!] o rei preto encontra-se em a6 e o peão branco promove em c8 com xeque, o mesmo esquema se reproduz aqui) a2 5. R:a2 (agora o rei branco encontra-se em a2 e o peão da coluna c não promove com xeque, será que a manobra de Reti ainda é efetiva nestas condições ?) Rg3 6. f5 Rf4 7. f6 Re3 8. f7 c2 9. f8=D c1=D 10. Dh6+ e as brancas ganham com o “raio x” de Cook!
Reti definia estudos de uma forma pouco ortodoxa, como eram muitas de suas idéias e concepções, porém muito significativa: “estudos são posições de finais com um conteúdo extraordinário”.

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