sexta-feira, 16 de maio de 2014

OPORTUNA CRÔNICA DO SAPIENTE MAURINHO ADORNO SOBRE O FULECO, O TATU MASCOTE DA COPA DO MUNDO NO BRASIL: UM SHOW DE FRASES E REALIDADES...

Sob o olhar de Maurinho Adorno – Gazeta 15.05.2014
“Quem tem fuleco, tem medo”
Esse negócio de provérbios é interessante. Eu tenho um amigo que resolveu apostar na eficiência dos provérbios em sua vida. Às vezes, a aplicação dava excelentes resultados, mas às vezes não. Jovem ainda, o Mazinho resolveu abrir um negócio e nos convidou, eu e mais dois amigos, para uma conversa em particular, bem na última mesa do Bar Mirim. Ele iria deixar a metalúrgica onde trabalhava e, com o dinheiro da rescisão do contrato, pretendia montar uma sorveteria.
No início da conversa foi enfático, pedindo para que não comentássemos seu projeto até que inaugurasse o estabelecimento. “Sabe como é; em boca calada não entra mosquito”, disse-nos. Após um juramento conjunto, disse a ele que o negócio precisaria ser bem estruturado, pois não se vendem sorvetes no inverno. O Carlos Roberto Botelho que o diga. Sugeri que também vendesse doces e chocolates no período do frio, pois à época o inverno era rigoroso. Ele aceitou a sugestão e prometeu estudar.
Maneco, um amigo mais chegado ao Mazinho estava preocupado. Queria saber seu planejamento estratégico. O futuro empresário saiu com essa: “vou empregar a técnica do ‘uma mão lava a outra’: é assim, o dono do açougue onde nós compramos carne vai comprar os meus sorvetes, da mesma forma o dono da farmácia, do armazém, da loja de roupas e até o dono da funerária, pois um dia ele vai lucrar comigo”. Continuou, “e vou fazer muita publicidade, uma vez que ‘a propaganda é a alma do negócio’”.
Eu não tinha dúvida que não seria um bom negócio, pelo simples fato de que, de sorvete, o Mazinho só sabia chupar. Lembrei-me de um provérbio sempre proferido pela minha mãe em situações controversas “rir é o melhor remédio”, e dei uma risadinha, daquelas de incredulidade, desaprovando com a cabeça. No ato, irritado e com cara feia, meu amigo saiu com essa “quem ri por último, ri melhor”. Não tinha jeito. Mas, como o pai do Mazinho era comerciante, concordei com ele, acreditando que “filho de peixe, peixinho é”.
Dia 1º. de maio, com um temperatura de 10 graus, o Mazinho abriu a sorveteria. Ao final da noite, contabilizou: vendeu dois picolés. Mas, espirituoso, comentou o fracasso, e insistiu em um futuro sucesso, bem ao estilo “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Dois meses após, em julho, a sorveteria já estava “num mato sem cachorro”. Resolvemos, eu e meus dois amigos, tentar ajudá-lo a salvar o empreendimento. Nova reunião, nos fundos do Bar Mirim, para não espalhar a iminente falência na comunidade.
Na reunião, Maneco, Pedrinho e eu, além do Mazinho. Maneco, que sabia do gosto do amigo pelos provérbios, saiu com essa:
– Você “não está bem das pernas”, não pode tocar o negócio sozinho, você deve saber que “uma andorinha só não faz verão”. Estamos aqui para ajudar, ficaremos seus sócios, e saiba que “é melhor prevenir do que remediar”.
Mazinho era turrão. Levou um baita choque e nos golpeou:
– “Cada um sabe onde sapato aperta” e tem mais, “um é pouco, dois é bom, três é demais”.
Nós sabíamos que “o mar não estava para peixes”. Maneco, até então calado, esboçou soltar o verbo, mas foi contido pelo Mazinho: “devagar com o andor que o santo é de barro”. Como não houve sociedade, resolvemos indicar um consultor de negócios para o Mazinho. Mas ele, muquirana como era, quis saber se a assessoria tinha custo. Maneco aproveitou a deixa e sapecou:
– “Quem trabalha de graça é relógio”. 
A sorveteria do Mazinho foi morta e enterrada antes de setembro chegar. Ele conseguiu vender as geladeiras, máquinas e móveis para um senhor de Mogi Guaçu. No primeiro encontro, nos contou, em detalhes, todas as suas desilusões empresariais. Como se fosse um professor prepotente que estufa o peito da sabedoria, disse, tentando ser convincente: “vão-se os anéis, ficam os dedos”. E deu uma ordem para encerrar o assunto:
– “Águas passadas não movem moinhos”. E não se fala mais nisso.
Eu me lembrei da história do Mazinho no encontro semanal da cerveja. Começaram a falar sobre o nome do “Fuleco”, o mascote da Copa 2014. Um amigo disse que era premeditado, o Brasil cairia no buraco do tatu. Outro, disse que a CBF homenageou a população brasileira com um “Tatuzinho”, aquele do “aí, tatu, tatuzinho, abre a garrafa e me dá um pouquinho”. Na mesa ao lado, um descendente de italianos parou de tomar sua cachaça, quando perguntaram a ele: “você tem medo de perder a Copa?” Ele saiu com um novo provérbio que está circulando pela praça: 
“Quem tem fuleco, tem medo”. Afinal, para ele, o buraco é mais embaixo.

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