Sob o olhar de Maurinho Adorno – Gazeta 30.01.2014
Conurbação e sinergia,
verdadeira cartilha política
Ao me conhecer por gente, há algumas décadas, percebi que Mogi Guaçu e Mogi Mirim nutriam uma rivalidade sem precedentes, em todas as áreas, com destaque à política, futebol e vida social. Hoje os tempos mudaram, as cidades se entrelaçaram e uma avenida faz a divisa, na estrada interna. Em sua última administração, o prefeito guaçuano Walter Caveanha usava, até em sonhos, a palavra conurbação, exemplificando a ligação das duas comunidades em suas periferias.
Um dia, em uma reunião, Walter usou a palavra de uma maneira que causou espanto aos que não a conheciam. “As duas cidades estão numa conurbação total”, disse ele. Um vereador, ao meu lado, me perguntou:
– Isso que ele falou tem a ver com sexo?
Meu lado espirituoso aflorou na hora. Respondi:
– Tem sim, uma cidade está comendo a outra, pelas beiradas.
Comecei a colocar o tico e o teco a trabalhar. Meus dois neurônios, mesmo sem estar conurbados, me explicaram que é praxe dos políticos usar termos chiques: ninguém entende nada e todos aplaudem. Se um dia eu me candidatar a algum cargo – mesmo que seja o de síndico de prédio – vou ligar ao Walter e pedir para utilizar a palavra conurbação para conseguir votos. Gostei dela. É uma palavra que cabe em qualquer lugar.
Uma das maiores conurbações mundiais, eu refleti, está entre Brasil e Cuba. Eu explico: não é uma conurbação em que você percebe com os olhos. É a chamada conurbação aérea, a grande ligação que torna os países mais que próximos. Funciona assim: eles mandam médicos de lá e nós mandamos milhões de cá, no aviãozinho presidencial. A conurbação Brasil e Cuba teve o pontapé inicial no governo do presidente Lula e agora com a benemerência de Dilma. Estou tão contente com essa conurbação e penso até em começar a aprender fumar charuto cubano.
Político bom de palanque tem sempre uma palavra bonita, que soa bem nos ouvidos do eleitorado. Caveanha saiu com mais uma pérola na última administração: sinergia. Acharam que ele iria criar a Secretaria da Sinergia e os eletricistas ficaram contentes pelo reconhecimento à categoria. Difícil foi explicar aos funcionários públicos o significado da palavra: nada de energia, e sim um perfeito entrosamento entre os departamentos para atingir os objetivos da administração. Ou, mais trabalho com mais qualidade.
Antonio dos Santos, o Tonhão, um pedreiro morador da zona norte, guardou a palavra para utilizá-la em casa. Era bonita! Reuniu a família e sapecou:
– Agora, a família vai trabalhar com sinergia. Um lava as panelas, outro os pratos, outro limpa a casa.
Tonhão falou e saiu para tomar uma cachaça com os amigos no boteco do Mané. Pensou em colocar o nome de sinergia em sua filha que estava prestes a nascer: Sinergia dos Santos. Ela ganharia os céus antes mesmo de chegar ao mundo dos vivos. Pensando na palavra,Tonhão deixou o boteco e foi para casa. Na cama, perguntou à esposa:
– Maria, vamos fazer sinergia?
A esposa, cansada de bater roupa no tanque de cimento durante a tarde toda, e ficar até as 22h00 passando as roupas da família, até que foi espirituosa. Tascou no marido.
– Sinergia nem de noite e nem de dia.
Na política guaçuana, os polos opostos não se atraíam. Carlos Nelson se elegeu prefeito e, em seguida, comandou uma campanha vitoriosa de Walter Caveanha, em completa sinergia. Eles romperam, de um olhar feio para o outro. CNB também foi o grande cabo eleitoral de seu primo Hélio Miachon Bueno. Fizeram a campanha com a máxima sinergia. Não demorou muito e estavam brigados. Um não olhava na cara do outro. Na última eleição, os três estavam mais entrelaçados que novelo de lã. Sinergia total. Eu não disse que os políticos gostam de sinergia?
Em Mogi Mirim, um dos exemplos mais claros de sinergia: o casal Cinoê-Luzia. Com a mãe a tiracolo, o rapaz que não é bobo, está em todo lugar. Eu acredito que tenha feito um cursinho com o Caveanha. Na última eleição, foi o mais votado à Câmara Municipal. Graças à sinergia com a Luzia.
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