(do excelente blog AMIGOS DO XADREZ)
"Diante do tabuleiro, a mentira e a hipocrisia não sobrevivem por muito tempo. A combinação criadora desmascara a presunção da mentira, os impiedosos fatos que culminam no mate, contradizem o hipócrita." - Emanuel Lasker - Xadrez é vida, é sorte, é azar. É jogar, se esconder, se divertir, rir, mentir, suar, matar, capturar. Com o xadrez aprendemos a ser felizes; com ele, podemos aprender a viver; ganhamos, perdemos, mas JOGAMOS; para um grande enxadrista não basta apenas JOGAR, mas é necessário GANHAR! Como Kasparov sempre dizia: o mestre só se torna um mestre a partir de mil derrotas e meia vitória, pois assim ele aprende a ter dignidade e ser capaz de ver os lances, prever os lances. Um mestre só se torna um mestre quando obtêm mil derrotas pensadas, mas ele se torna um burro quando não quer pensar e para de jogar.
"Diante do tabuleiro, a mentira e a hipocrisia não sobrevivem por muito tempo. A combinação criadora desmascara a presunção da mentira, os impiedosos fatos que culminam no mate, contradizem o hipócrita." - Emanuel Lasker - Xadrez é vida, é sorte, é azar. É jogar, se esconder, se divertir, rir, mentir, suar, matar, capturar. Com o xadrez aprendemos a ser felizes; com ele, podemos aprender a viver; ganhamos, perdemos, mas JOGAMOS; para um grande enxadrista não basta apenas JOGAR, mas é necessário GANHAR! Como Kasparov sempre dizia: o mestre só se torna um mestre a partir de mil derrotas e meia vitória, pois assim ele aprende a ter dignidade e ser capaz de ver os lances, prever os lances. Um mestre só se torna um mestre quando obtêm mil derrotas pensadas, mas ele se torna um burro quando não quer pensar e para de jogar.
domingo, 31 de janeiro de 2010
Mequinho pronto para virar o jogo
Na base da fé e da homeopatia, grande mestre se recupera de doença e espera voltar a competir em alto nível
Ana Paula Garrido
A doença de nome difícil - miastenia -, e tratamento mais difícil ainda, quase deu um xeque-mate em Henrique Mecking, o Mequinho. Foram 17 anos longe do mundo de torres, peões, rainhas e reis - de 1979 a 1991 e 1995 a 2000. Durante esses intervalos, arriscou algumas disputas, mas admite que não foi nada bem. Mas, agora, o discurso é diferente. Mequinho vem retomando, ainda devagar, a rotina de jogos. No ano passado, o melhor enxadrista que o Brasil já teve participou de três torneios e empatou por 2 a 2 com o melhor da América do Sul.
Para ele, a recuperação só foi possível graças a remédios homeopáticos, alimentação natural e oração, muita oração - mesma tática usada em jogos difíceis. "Já estive completamente perdido em quatro ou cinco disputas, mas, começo a rezar em voz baixa, Jesus fica com pena de mim e me salva", diz.
A ligação íntima com a religião - formou-se em teologia e participa do movimento Renovação Carismática, da Igreja Católica -, o faz assegurar que sua cura está próxima. "Estou quase bom. Há dez anos jogava muito pior do que agora", conta.
Mequinho aposta em cura ainda para este ano. "Na Bíblia diz: "Para Deus um dia é como mil anos e mil anos como um dia". Vou ser curado rapidamente."
O desejo é ser o mesmo de 1978, quando se sagrou o 3º melhor do mundo no ranking da Federação Internacional de Xadrez (FIDE). "Pretendo voltar a ser um dos melhores, até o primeiro", torce. A doença que atrapalha a ligação dos nervos com os músculos o faz perder força rapidamente após atividades física ou mental. "Os erros são por causa do cansaço. Além disso, demoro mais para me recuperar dos torneios."
A necessidade de intervalos mais longos impede a participação de Mequinho em campeonatos seguidos, que contam pontos para o "rating" internacional (ranking dos melhores do mundo). Cada partida vencida é somada na pontuação. Quando disputada com adversário de nível superior, até empate rende pontos. Em 1978, ele atingiu a marca de 2.635. Hoje, está longe dos primeiros lugares.
"Fui prejudicado porque houve uma grande inflação de "rating". A Federação deu pontos para mulheres e surgiram novos jogadores", reclama. Mesmo assim, Mequinho se orgulha da conquista, que o coloca na classe dos grandes mestres - acima de 2.500 pontos - para sempre. E afirma que, mesmo na época aguda da doença, nunca esteve abaixo disso.
Enquanto não volta a ter 100% de condições, Mequinho controla a ansiedade com a certeza de que o pior já passou. Quase morreu durante uma crise da doença em 1979. Na época, não conseguia mastigar e nem sair de casa, tamanha a fraqueza. "A empregada me dava comida na boca e um amigo escovava meus dentes", relata.
Como grande mestre de xadrez, Mequinho soube lidar com o tempo prolongado para se livrar da miastenia. Já são 31 anos, entre tratamento nos Estados Unidos e remédios diários, além de visitas às cidades milagrosas e participação em grupos de oração.
No entanto, a paciência não é a mesma para partidas mais longas. Prefere jogos mais rápidos realizados em sites como o Clube de Xadrez Virtual (ICC). "Fui dez vezes o numero um no ICC. Ali se reúnem os melhores do mundo e tem mais de 200 mil jogadores", orgulha-se.
A preferência por lances mais breves também é clara no livro em que fala sobre sua vida. Os 14 capítulos têm em média uma página e meia cada um.
Mesmo em conversas sobre xadrez, Mequinho sempre acha espaço para discursar sobre santos e teorias católicas. Tudo acompanhado de datas e nomes detalhados. Porém, a memória ainda não armazenou a senha para entrar no ICC, anotada num papel dobrado.
RECUPERAÇÃO
Para auxiliá-lo na fase de recuperação, Mequinho chamou o enxadrista Tiago Pereira Rodrigues. Enquanto o grande mestre fica na sala lendo sobre xadrez ou analisando partidas, o jovem Tiago, de 21 anos, sentado a frente de três computadores, reúne informações sobre os principais mestres e jogadas. Para o garoto, vale o aprendizado.
Acostumados a passar horas em frente a um tabuleiro, os dois só se enfrentaram uma vez, numa partida simultânea, quando Mequinho jogou com vários ao mesmo tempo. Tiago perdeu. Os dois se enfrentam mais no caratê, esporte que Mequinho pratica, assim como a corrida, para manter a forma.
Se depender de autorização médica, o mestre pode voltar logo. "Ele se encontra num grau bem estável, em condições de disputar campeonatos", afirmou o homeopata Luiz Eduardo Andrade. Disse que ele está preparado, com remédios mais fortes, para atividades intensas, como campeonatos, ou para enfrentar crises da miastenia.
Já o presidente da Confederação Brasileira de Xadrez, Pablyto Robert, desconfia que a retomada de Mequinho dê resultado. "Ele nunca deixou de ser um grande jogador, mas para brigar por títulos é difícil. Ele ficou muito tempo longe e a idade também é fator determinante no xadrez competitivo", aponta.
PLANOS
O primeiro passo de Mequinho este ano é conseguir um patrocínio de alguma cidade paulista para os Jogos Abertos do Interior. Ano passado, ficou em 3º lugar, por São Bernardo. A Secretaria de Esportes da cidade avisou que, por enquanto, não há nada programado sobre contratações para este ano.
Mequinho também aposta nas partidas simultâneas para se manter financeiramente. Seu desempenho é bom na categoria. "Não perco há 34 anos." A última participação foi em outubro, durante a Virada Esportiva, em São Paulo.
Por enquanto, o único compromisso acertado para 2010 será em março, em Caxias do Sul, durante a Festa da Uva. Apesar de não valer pontos para o ranking mundial, Mequinho pode jogar com grandes mestres, "entre eles, um da Ucrânia, que é campeão mundial de xadrez rápido".
O único enxadrista brasileiro que chegou a ser o terceiro melhor do mundo ainda não consegue definir uma data para sua volta definitiva. Mas mantém a esperança e se esforça para continuar com o raciocínio ativo. Questionado em quanto tempo percorria quatro quilômetros, Mequinho ainda não havia se preocupado em cronometrar sua corrida, praticada duas vezes por semana. Tratou, porém, de calcular um valor aproximado, por meio do tempo médio para a distância de 2,5 km. Chegou ao intervalo entre 16 e 18 minutos.
GRANDE MESTRE
Nome: Henrique Costa Mecking
Nascimento: em 1952, na cidade de Santa Cruz do Sul (RS)
Idade: 58 anos
Quando começou: aos 6 anos
Principais conquistas:
1959: Vice-campeão de São Lourenço do Sul (RS)
1964: Campeão gaúcho
1965: Campeão brasileiro
1967:Título de Mestre Internacional
1972: Título de Grande Mestre Internacional
1978: Terceiro melhor jogador de xadrez do mundo
2005: Segundo lugar no Torneio Zonal 2.4 da Fide
2006: Campeão invicto do Torneio de Lodi (Itália)
2010: Completa 34 anos de invencibilidade em partidas simultâneas no Brasil
Ana Paula Garrido
A doença de nome difícil - miastenia -, e tratamento mais difícil ainda, quase deu um xeque-mate em Henrique Mecking, o Mequinho. Foram 17 anos longe do mundo de torres, peões, rainhas e reis - de 1979 a 1991 e 1995 a 2000. Durante esses intervalos, arriscou algumas disputas, mas admite que não foi nada bem. Mas, agora, o discurso é diferente. Mequinho vem retomando, ainda devagar, a rotina de jogos. No ano passado, o melhor enxadrista que o Brasil já teve participou de três torneios e empatou por 2 a 2 com o melhor da América do Sul.
Para ele, a recuperação só foi possível graças a remédios homeopáticos, alimentação natural e oração, muita oração - mesma tática usada em jogos difíceis. "Já estive completamente perdido em quatro ou cinco disputas, mas, começo a rezar em voz baixa, Jesus fica com pena de mim e me salva", diz.
A ligação íntima com a religião - formou-se em teologia e participa do movimento Renovação Carismática, da Igreja Católica -, o faz assegurar que sua cura está próxima. "Estou quase bom. Há dez anos jogava muito pior do que agora", conta.
Mequinho aposta em cura ainda para este ano. "Na Bíblia diz: "Para Deus um dia é como mil anos e mil anos como um dia". Vou ser curado rapidamente."
O desejo é ser o mesmo de 1978, quando se sagrou o 3º melhor do mundo no ranking da Federação Internacional de Xadrez (FIDE). "Pretendo voltar a ser um dos melhores, até o primeiro", torce. A doença que atrapalha a ligação dos nervos com os músculos o faz perder força rapidamente após atividades física ou mental. "Os erros são por causa do cansaço. Além disso, demoro mais para me recuperar dos torneios."
A necessidade de intervalos mais longos impede a participação de Mequinho em campeonatos seguidos, que contam pontos para o "rating" internacional (ranking dos melhores do mundo). Cada partida vencida é somada na pontuação. Quando disputada com adversário de nível superior, até empate rende pontos. Em 1978, ele atingiu a marca de 2.635. Hoje, está longe dos primeiros lugares.
"Fui prejudicado porque houve uma grande inflação de "rating". A Federação deu pontos para mulheres e surgiram novos jogadores", reclama. Mesmo assim, Mequinho se orgulha da conquista, que o coloca na classe dos grandes mestres - acima de 2.500 pontos - para sempre. E afirma que, mesmo na época aguda da doença, nunca esteve abaixo disso.
Enquanto não volta a ter 100% de condições, Mequinho controla a ansiedade com a certeza de que o pior já passou. Quase morreu durante uma crise da doença em 1979. Na época, não conseguia mastigar e nem sair de casa, tamanha a fraqueza. "A empregada me dava comida na boca e um amigo escovava meus dentes", relata.
Como grande mestre de xadrez, Mequinho soube lidar com o tempo prolongado para se livrar da miastenia. Já são 31 anos, entre tratamento nos Estados Unidos e remédios diários, além de visitas às cidades milagrosas e participação em grupos de oração.
No entanto, a paciência não é a mesma para partidas mais longas. Prefere jogos mais rápidos realizados em sites como o Clube de Xadrez Virtual (ICC). "Fui dez vezes o numero um no ICC. Ali se reúnem os melhores do mundo e tem mais de 200 mil jogadores", orgulha-se.
A preferência por lances mais breves também é clara no livro em que fala sobre sua vida. Os 14 capítulos têm em média uma página e meia cada um.
Mesmo em conversas sobre xadrez, Mequinho sempre acha espaço para discursar sobre santos e teorias católicas. Tudo acompanhado de datas e nomes detalhados. Porém, a memória ainda não armazenou a senha para entrar no ICC, anotada num papel dobrado.
RECUPERAÇÃO
Para auxiliá-lo na fase de recuperação, Mequinho chamou o enxadrista Tiago Pereira Rodrigues. Enquanto o grande mestre fica na sala lendo sobre xadrez ou analisando partidas, o jovem Tiago, de 21 anos, sentado a frente de três computadores, reúne informações sobre os principais mestres e jogadas. Para o garoto, vale o aprendizado.
Acostumados a passar horas em frente a um tabuleiro, os dois só se enfrentaram uma vez, numa partida simultânea, quando Mequinho jogou com vários ao mesmo tempo. Tiago perdeu. Os dois se enfrentam mais no caratê, esporte que Mequinho pratica, assim como a corrida, para manter a forma.
Se depender de autorização médica, o mestre pode voltar logo. "Ele se encontra num grau bem estável, em condições de disputar campeonatos", afirmou o homeopata Luiz Eduardo Andrade. Disse que ele está preparado, com remédios mais fortes, para atividades intensas, como campeonatos, ou para enfrentar crises da miastenia.
Já o presidente da Confederação Brasileira de Xadrez, Pablyto Robert, desconfia que a retomada de Mequinho dê resultado. "Ele nunca deixou de ser um grande jogador, mas para brigar por títulos é difícil. Ele ficou muito tempo longe e a idade também é fator determinante no xadrez competitivo", aponta.
PLANOS
O primeiro passo de Mequinho este ano é conseguir um patrocínio de alguma cidade paulista para os Jogos Abertos do Interior. Ano passado, ficou em 3º lugar, por São Bernardo. A Secretaria de Esportes da cidade avisou que, por enquanto, não há nada programado sobre contratações para este ano.
Mequinho também aposta nas partidas simultâneas para se manter financeiramente. Seu desempenho é bom na categoria. "Não perco há 34 anos." A última participação foi em outubro, durante a Virada Esportiva, em São Paulo.
Por enquanto, o único compromisso acertado para 2010 será em março, em Caxias do Sul, durante a Festa da Uva. Apesar de não valer pontos para o ranking mundial, Mequinho pode jogar com grandes mestres, "entre eles, um da Ucrânia, que é campeão mundial de xadrez rápido".
O único enxadrista brasileiro que chegou a ser o terceiro melhor do mundo ainda não consegue definir uma data para sua volta definitiva. Mas mantém a esperança e se esforça para continuar com o raciocínio ativo. Questionado em quanto tempo percorria quatro quilômetros, Mequinho ainda não havia se preocupado em cronometrar sua corrida, praticada duas vezes por semana. Tratou, porém, de calcular um valor aproximado, por meio do tempo médio para a distância de 2,5 km. Chegou ao intervalo entre 16 e 18 minutos.
GRANDE MESTRE
Nome: Henrique Costa Mecking
Nascimento: em 1952, na cidade de Santa Cruz do Sul (RS)
Idade: 58 anos
Quando começou: aos 6 anos
Principais conquistas:
1959: Vice-campeão de São Lourenço do Sul (RS)
1964: Campeão gaúcho
1965: Campeão brasileiro
1967:Título de Mestre Internacional
1972: Título de Grande Mestre Internacional
1978: Terceiro melhor jogador de xadrez do mundo
2005: Segundo lugar no Torneio Zonal 2.4 da Fide
2006: Campeão invicto do Torneio de Lodi (Itália)
2010: Completa 34 anos de invencibilidade em partidas simultâneas no Brasil
PUBLICADO NO JORNAL ESTADÃO. (31/01/2010)
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