domingo, 15 de maio de 2011

XADREZ NAS ESCOLAS E A EDUCAÇÃO NO BRASIL...

Alfredo Pereira dos Santos Comentário de Alfredo Pereira dos Santos 4 horas atrás(do famoso blog do Luís Nassif)

Caros amigos

De fato o xadrez anda abandonado e pouco divulgado pela mídia. O MEC parece que apóia a sua prática nas escolas e o ministério dos esportes diz fornecer pelas de xadrez para as escolas que as solicitarem. Mas aqui no extremo sul da Bahia uma escola fez o pedido em novembro de 2010 e até agora não teve resposta. Um membro da federação baiana de xadrez diz que as peças podem levar até um ano para chegar.

O secretário de educação municipal aqui na região me pediu que desse um curso de xadrez para diretores, coordenadores e professores das escolas locais. Estes, por sua vez, ficariam encarregados de implantar o xadrez nas escolas e levá-los às crianças.

Cerca de vinte pessoas se inscreveram e ao final da primeira aula uma das alunas disse o seguinte: “eu nunca vou conseguir aprender esse jogo”. E desistiu. Uma minoria aprendeu a jogar mas todos diziam que estavam entendendo tudo o que era ensinado em aula. Raríssimos eram os que praticavam o jogo. Ao final do curso eu notei que tinha gente que não sabia o movimento do cavalo. O movimento especial conhecido como “em passant” foi outro problema. Cálculo do rating não foi possível ensinar porque envolve médias aritméticas, consulta a uma tabela e o uso de uma fórmula simples e os participantes mostraram ter dificuldades com essas coisas.

Não se trata de condenar, criticar ou vituperar ninguém, mas o fato é que jovens daqui chegam ao ensino médio sem saber ler e escrever direito, além de ignorar os conceitos básicos da matemática. Poucos lêem, inclusive os professores. Livraria não há e uma pequena biblioteca pública improvisada, sem bibliotecária, fica entregue às moscas.

Tem professora que acha que o idioma oficial falado na Argentina é o inglês, tem professor graduado em Letras que comete vários erros de concordância numa única folha de texto.

Essa é a realidade da educação no interior brasileiro, que os governos ignoram ou fingem ignorar, divulgando estatísticas sobre alfabetização que sabemos serem falsas.

Aqui eu conheço cinco enxadristas que, simplesmente, não jogam. Sabem jogar mas não jogam. Não se reúnem para jogar, por mais que se os convide. Em janeiro desse ano fizemos um torneio, com prêmios. Conseguimos reunir oito gatos pingados, entre os quais a minha mulher, uma menina de uns dez anos que mal aprendera a jogar e mais cinco pessoas que eu nunca tinha visto antes e que depois do torneio sumiram. Dos alunos do curso que dei só um participou. O torneio foi divulgado através de cartazes espalhados pela localidade, que é pequena, e pela rádio pirata local.

O meu amigo Francisco Schwab, que dividiu comigo o primeiro lugar no Torneio Popular do Estado da Guanabara, 1971, afirma que “o xadrez está bombando no interior do Brasil”. Pode ser, mas isso depende de que interior ele está falando, pois o Brasil é muito desigual. A questão aqui é o “provincianismo”, que o poeta Fernando Pessoa definia da seguinte forma: “Pertencer a uma civilização sem participar do desenvolvimento superior dela”. Xadrez é cultura e o escritor Jorge Amado, no seu livro “Tenda dos Milagres”, usou uma expressão, que é “ambientes hostis à cultura”, para caracterizar uma situação bastante comum na Bahia.

Mas não sejamos injustos. O problema não diz respeito apenas à Bahia mas ao Brasil como um todo. E está ai o meu querido Rio de Janeiro, a minha terra natal, que não me deixa mentir, com a sua decadência cultural. E de Santa Catarina o poeta, jornalista, escritor e professor universitário, Affonso Romano de Sant´Anna, nos conta que livros de iniciação aos estudos literários que eram usados e entendidos por alunos do ensino médio há cinqüenta anos, são considerados difíceis por alunos de cursos de mestrado de hoje.

Então, aos que andam tristes com o desprestígio do xadrez por esse Brasil eu digo: Não fiquem assim porque aqui a coisa está pior.

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